Nas asas da Panair do Brasil
A Panair nasceu em 1929 como NYRBA do Brasil, subsidiária da companhia americana NYRBA (New York, Rio e Buenos Aires), fundada por Ralph O’Neill. Em 1930, foi incorporada pela Pan American Airways, a Pan Am, e teve o nome alterado para Panair do Brasil. “PANAIR” era o endereço telegráfico da Pan American. O celebrado “Padrão Panair”, de excelência operacional e atendimento ao passageiro, foi resultado da implementação sistemática, na subsidiária brasileira, de avanços tecnológicos e melhorias em serviços da própria Pan American.
A companhia aérea é considerada a primeira “empresa de bandeira” do Brasil, respeitada no exterior por sofisticação e conforto. Mas o requinte das rotas mais badaladas, como os voos transatlânticos, contrastava com o papel humanitário que a Panair desempenhava nos confins da Amazônia, com os Catalinas. O ex-copiloto da companhia, senhor Helio Ruben de Castro Pinto, relata como eram esses voos.
No início da década de 1940, as ações da Panair começaram a ser compradas por investidores brasileiros até que, em 1948, a empresa já era majoritariamente nacional. Nos anos 50, especulava-se que a Varig tinha planos de adquirir ações dela. Mas a Panair acabou nas mãos de dois poderosos empresários: Celso da Rocha Miranda, dono na maior companhia de seguros da América do Sul, e Mário Wallace Simonsen, dono de trinta diferentes companhias, de ramos tão variados quanto a TV Excelsior e a exportadora de café Comal.

A Panair do Brasil foi retratada no cinema internacional em clássicos como “O Grande Elias” (1950), “Copacabana Palace” (1962), “Um Só Pecado” (1964) e “O Homem do Rio” (1965). Mas no fatídico 10 de fevereiro de 1965, a Panair foi abatida em pleno voo pelo regime militar. Na reportagem, Rodolfo da Rocha Miranda, filho de um dos acionistas majoritários, explica o que levou à perseguição sistemática da companhia, que era a marca brasileira mais reconhecida no exterior. Rodolfo é o atual diretor-presidente da Panair do Brasil, que existe no papel até hoje! Na reportagem, ele lembra de uma passagem ocorrida nos anos 90 em que a companhia poderia ter voltado à ativa…

A obra bibliográfica definitiva sobre o tema é o livro “Pouso Forçado: a história por trás da destruição da Panair do Brasil pelo regime militar”, de Daniel Leb Sasaki. O jornalista mergulhou fundo nos arquivos confidenciais liberados pela lei de acesso à informação e eliminou qualquer dúvida que pairava acerca de versões divergentes contadas sobre esse capítulo da História do Brasil. A descrição do livro, feita pelo nosso colega Gianfranco “Panda” Beting é precisa: “… uma história tão triste quanto espantosa, tão absurda quanto trágica: o assassinato, esquartejamento e tentativa de ocultação de cadáver de uma das mais queridas, majestosas e emblemáticas companhias aéreas que este país teve.”
A Panair do Brasil foi imortalizada na música na voz de Elis Regina, numa interpretação magistral de “Conversando no Bar (Saudade dos Aviões da Panair)”, composição de Milton Nascimento e Fernando Brant.
Em 2019, a companhia ganhou a exposição “Nas Asas da Panair”, montada no Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro, sob a curadoria da historiadora Mariza Soares, que nos conta como se deu a montagem da mostra. Algumas das relíquias expostas lá podem ser vistas nesta reportagem. Mas nada substitui ver tudo de perto!
E a Panair do Brasil deve voltar às telas numa série que está sendo produzida pela Spray Filmes, ainda sem data prevista de lançamento. A série vai ser uma adaptação do livro “Pouso Forçado”, de Daniel Leb Sasaki.
O COMANDANTE BRUNO ROTTA
Era primo do meu avô Igino Bighetti. Desde muito pequeno eu ouvia o nome dele em casa. Sempre falavam do Bruno com reverência e orgulho. E lamentavam o acidente que tirou a vida do jovem comandante… Há cerca de cinco anos eu passei a perguntar a respeito dele ao meu pai e ao meu avô, hoje já falecido. Surgiu uma curiosidade de saber em que companhia ele trabalhava e em que circunstâncias o acidente tinha ocorrido. Foi aí que eu tive a dimensão da tragédia que tinha sido.
Meu pai tinha apenas 3 anos, mas conta que se lembra do desespero da família ao ouvir a notícia da queda do avião Constellation na aproximação para o pouso noturno no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Era o dia 17 de junho de 1953. O Comandante Bruno Rotta assumiu o voo Panair 263, no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, procedente de Londres. Do Rio, ainda iria a São Paulo e tinha como destino final Buenos Aires, na Argentina.